O Coreto e a Cidade
Aventura na cidade,
projetados, amparam-nos.
A cidade toma outra cor,
alternam as sirenes,
pânico formado,
choro convulsivo
Um edifício desaba.
o sol foge
não suporta , chora.
Deixa cair as suas lágrimas
Lágrimas essas que serão,
as ultimas lembranças,
desta cidade sinistra,
tomada pelas sirenes
As luzes redopiam,
á minha volta
pessoas morrem.
debaixo deste céu estranho
As buzinas dos carros,
choram imploram.
As aves correm,
não conseguem voar
a terra abre-se , engole-as.
GRITO- Afinal o que é isto ?
Ninguém me ouve.
Impotente sento-me,
naquele coreto,
que muitas vezes olhei,
no meio daquele jardim
Ouço um choro.
As pessoas correm de um lado para outro.
Não sabendo o que fazer,
se corre, ou se,
se deixar morrer
Procuro o dono do choro.
Lá estava do outro lado do coreto
A principio não te reconheci.
A tua cara era um misto,
de terra, de agua, de sangue
Mas aquele coreto,
parecia imune aquilo tudo.
Á volta tudo destruído,
não restava uma construção direita.
A não seres tu, velho coreto.
Pus-te em cima do coreto
corri á procura de agua
não foi difícil de encontrar.
Tinha chovido
A água da chuva,
ia limpando a cidade.
Tudo parecia agora
mais calmo, mais claro.
Limpei-te o rosto.
Agora de muitos lados,
ouviam-se vozes
Sorris-te
Essas vozes perguntavam ,
uma ás outras ainda estonteadas.
qual seria o seu destino.
O que seria que tinha acontecido.
Olhei para ti e em gestos,
perguntaste pelos outros.
Abanei os ombros e a cabeça.
Dos teus olhos saíram lágrimas.
Tento consolar-te, mas não consigo.
Unicamente o que consegui,
foi abraçar-me a ti,
e chorar também.
Ali adormecemos abraçados,
não resistimos ao cansaço
sob o risco de não mais acordarmos,
para esta cidade incompreendida
Acordo com um beijo.
Abro os olhos.
Vejo o sol, vejo-te a ti.
Não há diferenças entre os dois
E no meio daquela cidade confusa.
amei-te.
O amor fez-nos esquecer tudo.
e o velho coreto parecia sorrir.
A terra recomeçava tudo de novo.
Punha-se direita, plana
O que se teria passado,
uma revolução , uma bomba .
Foi a vontade da cidade,
foi a sua revolta.
Uma revolta imprevista,
contra o que lhe estavam a fazer
Agora tudo se recompõe,
as pessoas já sorriem.
Os pássaros voltam a voar
A cidade renasce por si
E o velho coreto,
que nos acolheu.
Parece agora mais novo.
O nosso amor,
fez-lo rejuvenescer
Nunca mais esqueceremos
esse dia.
Onde a cidade rebentou,
onde o nosso amor se adensou
26-3-1985