domingo, 5 de janeiro de 2025

O Coreto e a Cidade


 

O Coreto e a Cidade



Aventura na cidade,


os tremores da lua,

projetados, amparam-nos.


A cidade toma outra cor,

alternam as sirenes,

pânico formado,

choro convulsivo


Um edifício desaba.

o sol foge

não suporta , chora.

Deixa cair as suas lágrimas


Lágrimas essas que serão,

as ultimas lembranças,

desta cidade sinistra,

tomada pelas sirenes


As luzes redopiam,

á minha volta

pessoas morrem.

debaixo deste céu estranho


As buzinas dos carros,

choram imploram.

As aves correm,

não conseguem voar

a terra abre-se , engole-as.


GRITO- Afinal o que é isto ?


Ninguém me ouve.

Impotente sento-me,

naquele coreto,

que muitas vezes olhei,

no meio daquele jardim


Ouço um choro.

As pessoas correm de um lado para outro.

Não sabendo o que fazer,

se corre, ou se,

se deixar morrer


Procuro o dono do choro.

Lá estava do outro lado do coreto

A principio não te reconheci.

A tua cara era um misto,

de terra, de agua, de sangue




Mas aquele coreto,

parecia imune aquilo tudo.

Á volta tudo destruído,

não restava uma construção direita.

A não seres tu, velho coreto.


Pus-te em cima do coreto

corri á procura de agua

não foi difícil de encontrar.

Tinha chovido


A água da chuva,

ia limpando a cidade.

Tudo parecia agora

mais calmo, mais claro.


Limpei-te o rosto.

Agora de muitos lados,

ouviam-se vozes

Sorris-te


Essas vozes perguntavam ,

uma ás outras ainda estonteadas.

qual seria o seu destino.

O que seria que tinha acontecido.


Olhei para ti e em gestos,

perguntaste pelos outros.

Abanei os ombros e a cabeça.

Dos teus olhos saíram lágrimas.


Tento consolar-te, mas não consigo.

Unicamente o que consegui,

foi abraçar-me a ti,

e chorar também.


Ali adormecemos abraçados,

não resistimos ao cansaço

sob o risco de não mais acordarmos,

para esta cidade incompreendida


Acordo com um beijo.

Abro os olhos.

Vejo o sol, vejo-te a ti.

Não há diferenças entre os dois





E no meio daquela cidade confusa.

amei-te.

O amor fez-nos esquecer tudo.

e o velho coreto parecia sorrir.


A terra recomeçava tudo de novo.

Punha-se direita, plana

O que se teria passado,

uma revolução , uma bomba .


Foi a vontade da cidade,

foi a sua revolta.

Uma revolta imprevista,

contra o que lhe estavam a fazer


Agora tudo se recompõe,

as pessoas já sorriem.

Os pássaros voltam a voar

A cidade renasce por si


E o velho coreto,

que nos acolheu.

Parece agora mais novo.

O nosso amor,

fez-lo rejuvenescer


Nunca mais esqueceremos

esse dia.

Onde a cidade rebentou,

onde o nosso amor se adensou


26-3-1985